Desistir Não é Opção: a história da pecuarista que superou desafios pessoais e crises no setor para se manter na pecuária leiteira no Rio Grande do Sul 4u3g4k
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A trajetória da pecuarista Rosane Sabiel, do interior do Rio Grande do Sul, representa a história da pecuária leiteira brasileira, que é marcada por persistência, superação e uma rotina onde o recomeço virou regra. Enquanto o setor enfrenta uma sequência de desafios — da concorrência com o leite importado do Mercosul, os altos custos de produção, efeitos da pandemia e, mais recentemente, as enchentes no Estado —, Rosane também precisou lutar com diversos obstáculos pessoais para seguir na atividade.
Na propriedade familiar Granja Santo Antônio, localizada no município de Carlos Barbosa, Rosane cresceu envolvida na produção de hortaliças, atividade que garante o sustento da família através da comercialização no CEASA da capital gaúcha. Paralelamente, a família possuía uma pequena criação de gado leiteiro, com o objetivo de atender às necessidades do consumo familiar.
A produtora relembra que foi na infância, observando a dedicação da avó ao rebanho de vacas holandesas, que a paixão pela pecuária de leite começou a florescer. Apesar da pouca idade, Rosane já possuía uma visão clara sobre a importância da qualificação e da adoção de novas tecnologias para impulsionar a produtividade e o crescimento do rebanho.
“Quem sempre cuidou do rebanho foi minha avó paterna. Com ela, eu aprendi a cuidar e amar dos animais. Quando eu tinha 12 anos, a minha avó machucou o joelho e não conseguiu mais fazer os tratos e nem a ordenha. Então, eu comecei a trabalhar mais intensivamente. E naquela época, era tudo ordenha manual”, comentou ao Notícias Agrícolas.

Aos 14 anos, Rosane começou a investir em sua formação na bovinocultura leiteira através de cursos práticos ministrados por técnicos da cooperativa do município. "Aprendi inseminação artificial, manejo do rebanho, nutrição e também como lidar com os animais quando adoeciam", explica.
Conforme a análise da Coordenadora de Leite e Derivados do Sebrae/RS, Aline Balbinoto, a atividade leiteira historicamente desempenhou um papel coadjuvante nas economias das propriedades, sendo os rendimentos destinados à quitação de obrigações financeiras básicas, como as despesas de supermercado. "Tradicionalmente, a pecuária leiteira era gerida pelas mulheres e seus lucros eram voltados para as necessidades alimentares da família", aponta.
A Coordenadora destaca as diversas mudanças pelas quais o setor tem ado nos últimos anos, marcadas pela transição de gerações, em que os filhos estão buscando investir em qualificação e tecnologia para impulsionar a rentabilidade na atividade.
“No Sebrae, notamos uma preferência dos proprietários das fazendas para que seus sucessores se qualifiquem por meio de cursos e apliquem o conhecimento adquirido na gestão da propriedade”, informou.
O Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat) observa que alguns fatores têm motivado a saída dos produtores da atividade, porém a melhora na rentabilidade nos últimos dois anos tem incentivado alguns produtores a continuarem. Segundo a entidade, esse cenário tem sido decisivo para atrair e manter jovens no campo, estimulando o processo de sucessão familiar.
“É a rentabilidade que motiva o produtor a permanecer na atividade, especialmente os mais jovens”, avalia Darlan Palharini, secretário executivo do Sindilat. Ele destaca que, diante de um ambiente mais favorável, tem crescido o número de filhos que optam por seguir ao lado dos pais na produção, dando continuidade ao negócio familiar.
Para o sindicato, esse movimento é essencial para evitar o abandono da pecuária leiteira e garantir o andamento do setor a longo prazo. “Quando há planejamento e participação ativa da nova geração, vemos a sucessão acontecer de forma mais estruturada, o que fortalece toda a cadeia produtiva”, conclui Palharini.
Para Rosane, os primeiros desafios na atividade começaram ainda criança, na qual sempre foi marcado por seus esforços em convencer a família sobre a importância de investir no setor. No entanto, o pai não dava a devida atenção para a produção de leite, o que sempre deixou Rosane chateada.
“Ainda criança meu pai tentou vender o lote de bovinos de leite três vezes, só que a minha mãe interferiu a meu favor, pois eu sempre caia aos prantos toda vez que tentavam vendê-las”, relatou.
Quando ela tinha 19 anos, o pai então comprou uma ordenhadeira “balde ao pé” e, naquela época, a produção estava em torno de 120 litros a 130 litros/dia. A atividade permaneceu de forma secundária ainda por um bom tempo, já que Rosane cresceu, se casou e teve dois filhos e continuava ajudando a família na produção de hortaliças.
"Assim como eu sempre gostei do trabalho com a pecuária leiteira, meu pai sempre amou cuidar da horta para vender no CEASA e ele segue se dedicando na atividade com muita convicção e amor”, relatou.
Assim como na propriedade da família, a atividade leiteira teve que ficar em segundo plano na vida pessoal de Rosane, que ou por uma separação no relacionamento e foi diagnoticada com câncer e depressão, assim precisou se afastar de todo o trabalho agrícola.
“Durante o período que eu estive doente, eu precisei vender meu veículo para custear o meu tratamento de saúde já que o plano se recusou a pagar meu tratamento. Naquele momento, a minha vida estava acima de tudo e quando estivesse recuperada tinha certeza que iria recomeçar novamente”, disse Saibel.
Assim que se recuperou do tratamento de saúde, Rosane decidiu buscar oportunidade de trabalho fora do campo já que não podia ficar exposta ao sol e ter contato com os produtos químicos. Foi então que começou a realizar fretes e ganhar dinheiro como caminhoneira. “Foi um período muito complicado, pois exigia que eu ficasse longe dos meus filhos e muito tempo na estrada, pricipalmente de madrugada”, comentou.
Rosane recordou o início de sua trajetória, quando auxiliava a avó no manejo do rebanho, então decidiu fazer uma proposta para o seu pai e disse que iria ter sucesso com a produção de leite. Depois de muitas conversas e negociações, o pai aceitou que ela continuasse investindo na pecuária leiteira, mas com a contrapartida de cobrança de uma porcentagem do uso da estrutura e maquinários da propriedade.
Assim, em janeiro de 2019, tomando como um grande desafio pessoal, Rosane ou a manejar sozinha do rebanho de vacas de leite mesmo com poucos recursos financeiros e tendo 17 animais no plantel (10 vacas em lactação e 7 terneiras). Com orientação do técnico da cooperativa, começou a reformulação das dietas e ou a trabalhar exclusivamente com a produção de leite.
“No início, a propriedade comprava os insumos para a alimentação animal e depois investimos na produção de feno de pré-secado, silagem de milho e feno de azevém”, disse.
Determinada em tornar a atividade mais eficiente e produtiva, a produtora começou a investir na atividade com recursos próprios e à medida que juntava o dinheiro com o trabalho. Dentre os investimentos realizados está a ampliação do confinamento, compra de animais, investiu em uma nova ordenhadeira, plataforma basculante, grade aradora, uma semeadora adubadora com acoplamento, pulverizador com comando hidráulico, segadeira para cortar pasto, ancinho, rolo compactador, espalhador de esterco com acionamento hidráulico de 4000L e dois tratores para as operações

“Os investimentos são necessários para se manter na atividade, mas eu costumo falar que eu invisto conforme a perna aguenta. Eu não faço nada que vai me prejudicar e comprometer o meu trabalho”, comentou.
Rosane decidiu buscar financiamento bancário apenas uma vez para adquirir dois tratores, mas que precisavam ser da cor rosa, pois além de ser um sonho pessoal a cor era uma demonstração de toda a força, empenho e dedicação das mulheres rurais, que apesar das diversidades não desistem da atividade.
“Era o meu sonho e não iria desistir disso tão fácil, eu fiz um financiamento junto ao banco e já quitei há dois anos com todo o meu empenho no trabalho”, completou. Com os investimentos realizados nos últimos quatros anos, a produção leiteira ou de 120 a 130 litros/dia para uma produção diária de 500 a 600 litros/dia.
Confira as fotos dos dois tratores da cor rosa que a Rosane comprou para ajudar no manejo da propriedade


Pandemia e conflito entre Rússia e Ucrânia elevam custos e pressionam a rentabilidade dos produtores de leite no Brasil
No início de 2020, quando o cenário finalmente parecia promissor para o setor agropecuário, os primeiros alertas sobre a pandemia de Covid-19 começaram a surgir no Brasil. A incerteza tomou conta do país, mas, curiosamente, a demanda por leite aumentou nos primeiros meses da crise sanitária, impulsionada pelo temor da população em relação à escassez de alimentos e a consequente levou a formação de estoques domésticos.
“A gente teve medo diante das informações, como todo mundo. Mas o agro não parou. Trabalhamos ainda mais, porque sabíamos da nossa responsabilidade de alimentar a população”, relembra a pecuarista. “As pessoas estavam inseguras, estocando produtos em casa. E nós estávamos ali, garantindo que nada faltasse.”
A experiência vivida durante a pandemia reforçou a importância de estratégias para gestão da propriedade, já que os pecuaristas de leite começaram a ser impactados com os altos custos de produção, especialmente do milho e do farelo de soja. “Após os primeiros meses da pandemia, os custos de produção começaram a ficar bem elevados e reduziu a margem de lucro na atividade”, relata a pecuarista.
O Pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Samuel Oliveira, destaca que o custo com a alimentação é o mais importante na produção leiteira, por isso os pecuaristas que decidem investir na produção de ração do próprio rebanho podem ter uma lucratividade diferenciada.
Dados da Plataforma Educampo Leite/Sebrae-MG evidenciam aumento considerável no custo nominal do litro de leite nos últimos anos. O custo com alimentação representa mais que 50% da renda bruta da atividade leiteira e dentro da alimentação, insumos concentrados são responsáveis pela maior parte dos custos, tendo como referenciais participação de 30 a 40% da receita bruta.
“Via de regra a produção de alimentos para o rebanhos é composta de duas formas, sendo a principal a base de volumosos que inclui pastagens e silagem. E também a suplementação de concentrados que é importante para o aumento da produção de leite. Os pecuaristas que conseguem, de maneira eficiente, internalizar esse processo acabam reduzindo o custo de produção na propriedade”, informou Oliveira.
Embora a pandemia tenha afetado o o a alguns insumos, foi a guerra entre Rússia e Ucrânia o fator que mais impactou os custos de produção no setor nos últimos anos, conforme destacou o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Paulo Martins.
Os efeitos colaterais da guerra iniciada em 2022 foram mais impactantes para o produtor brasileiro. De acordo com o Martins, a principal consequência do conflito foi a restrição no fornecimento de fertilizantes e adubos, insumos em grande parte importados da região em guerra.
“amos a ter problemas sérios com o abastecimento dos adubos e fertilizantes, e os preços dispararam. Além disso, soja e milho, que são fundamentais para a alimentação do gado, também sofreram aumentos expressivos no mercado interno”, explica.
O cenário impactou em um aumento significativo nos custos de produção, pressionando as margens e exigindo maior eficiência dos produtores. A situação se agrava pelo fato de que, mesmo diante dos aumentos de custos, os preços pagos ao produtor nem sempre acompanharam essa elevação, tornando o ambiente de negócios ainda mais desafiador para a pecuária leiteira nacional.
Em meio às incertezas da pandemia e à escalada nos custos de insumos, a pecuarista encontrou como alternativa a produção própria de alimentos para o rebanho para manter a rentabilidade da atividade leiteira. Rosane ou a arrendar uma área de terras pertencente a Gelsi Belmiro Thums, atual presidente da Cooperativa Santa Clara, para produzir o alimento do rebanho na totalidade.
A iniciativa resultou em ganhos significativos para a propriedade. Além de suprir a demanda interna da propriedade, o excedente da produção ou a ser comercializado com produtores vizinhos, criando uma nova fonte de renda.
“A pandemia nos obrigou a repensar estratégias. Investir na produção de alimentos para o rebanho foi uma decisão que nos deu mais autonomia e controle sobre os custos”, afirma Rosane.
O pesquisador explica que os pecuaristas que produzem seus próprios insumos e adotam sistemas integrados de pastagem e alimentação, conseguem diluir custos e obter margens mais rentáveis. “Isso exige planejamento e investimento dos pecuaristas, pois não dá mais para ser amador na produção de leite”, conclui Martins.
“O produtor precisa garantir que seus animais tenham produtividade suficiente para cobrir os custos da operação”, explica o Secretário Executivo na Sindilat. Segundo ele, mesmo quando a alimentação é produzida dentro da propriedade, é essencial atribuir um valor de mercado a esses insumos, como se fossem adquiridos de terceiros.
“Para se manter competitivo, o produtor deve considerar os preços atualizados da soja e do milho, independentemente de onde o alimento é produzido”, reforça Palharini.
Produção de alimentos na propriedade Granja Santo Antônio. Foto: Rosane Saibel



Importações em alta, margens apertadas: setor enfrenta desafio de competitividade e dependência do mercado interno
Em 2024, as importações somaram 2,28 bilhões de litros em equivalente leite — um crescimento de 5% em relação a 2023. Esse volume correspondeu a cerca de 9% da produção nacional sob inspeção sanitária, demonstrando a forte participação do produto estrangeiro no mercado interno.
Dados da Embrapa Gado de Leite revelam que, entre janeiro e abril de 2025, o país importou o equivalente a 750 milhões de litros de leite — volume semelhante ao registrado no mesmo período do ano anterior.
Apesar do volume histórico de leite importado pelo Brasil nos últimos anos, os preços pagos ao produtor não sofreram impacto direto, a análise é do pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Paulo Martins, que destaca o aumento da renda das famílias de baixa renda como fator determinante para a manutenção da demanda e, consequentemente, dos preços no mercado interno.

Segundo o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Samuel Oliveira, o custo de produção de leite no Brasil é significativamente mais alto em comparação aos países vizinhos. “O setor acaba sendo pressionado com a entrada do produto importado, que é mais barato e supre parte da demanda interna”, explicou Oliveira em entrevista ao Notícias Agrícolas.
A pecuarista Rosane expressa preocupação com o impacto com a entrada de produtos lácteos importados para os pecuaristas brasileiros. Segundo ela, o aumento das importações, em meio a um cenário de margens apertadas, tem gerado um sentimento generalizado de desmotivação no campo.
“É desanimador. Trabalhamos diariamente na propriedade, sem finais de semana, sem feriados e sem o respaldo de políticas públicas que garantam nossa permanência na atividade”, afirma Rosane.
Ela relembra com frustração o momento em que viu nas manchetes que o Brasil havia batido recordes de importação de leite, enquanto produtores locais enfrentavam dificuldades para manter a operação. “Foi especialmente difícil ler essas notícias sabendo que, ao mesmo tempo, nós aqui estávamos lutando para sobreviver, com os custos altos, impostos elevados e a rentabilidade cada vez menor”, desabafa.
No entanto, o pesquisador da Embrapa, Paulo Martins, destaca que se não tivesse a importação de leite, provavelmente no mercado não teria um produto de boa qualidade para ofertar aos consumidores. “Já vimos isso acontecer em anos anteriores, quando não tem oferta de qualidade para atender, o mercado reage ofertando produtos análogos, como bebidas à base de vegetais ou requeijões com pouco leite e muitos aditivos fermentados”, afirma.
“O setor precisa se ajustar à nova realidade. Hoje, competimos diretamente com países vizinhos que têm estruturas de produção mais enxutas”, reportou Palharini. Ele defende que a principal estratégia para enfrentar essa disputa é aumentar a eficiência produtiva dentro da porteira. “O ideal seria reduzir os custos de produção do leite brasileiro para nos aproximarmos dos padrões praticados por Argentina e Uruguai”, informou.
De acordo com o secretário, alguns produtores já conseguiram alcançar esse patamar de competitividade, operando com custos semelhantes aos dos vizinhos sul-americanos. No entanto, ainda há uma parcela significativa da pecuária leiteira nacional, especialmente os pequenos produtores que produzem menos de 500 litros por dia, que encontram dificuldades em se manter competitiva.
Outro fator que limita a competitividade da cadeia leiteira brasileira é a baixa participação do produto no mercado internacional. “Ainda não somos fortes exportadores de lácteos. Isso nos torna dependentes do mercado doméstico, e em anos com pouco dinamismo econômico, como agora, há pouco espaço para reajustes de preços ao produtor”, destacou Samuel Oliveira.
Entre perdas e resistência: a luta da pecuarista para se manter no setor após as enchentes no RS
Quando a rotina no campo começava a retomar o ritmo após os desafios impostos pela pandemia, a pecuarista Rosane Saibel se viu diante de mais uma adversidade: as enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul em 2024. Em Carlos Barbosa, município onde vive e trabalha, a situação foi crítica — como em outras 300 cidades atingidas pelas chuvas intensas, que provocaram alagamentos, deslizamentos, quedas de árvores e interrupção do fornecimento de energia elétrica.
Durante 15 dias, Rosane permaneceu isolada na propriedade rural. Com os os completamente alagados, ela não conseguiu sair da propriedade. Mesmo diante do risco, se recusou a abandonar o rebanho. “Não tinha como sair, e eu também não ia deixar os animais para trás”, relata.
Sem energia elétrica e com parte da produção comprometida, ela enfrentou dias de incertezas e dificuldades operacionais. As chuvas também afetaram diretamente o rebanho dela, em que chegou a perder duas matrizes em função do deslizamento de terras.
Durante os quinze dias em que permaneceu isolada devido às estradas interditadas pelas enchentes, a pecuarista Rosane Saibel contou com o apoio fundamental da Defesa Civil. Equipes se deslocaram até a localidade rural e prestaram assistência.
Confira os impactos das enchentes na propriedade familiar Granja Santo Antônio, em que as chuvas provocaram deslizamento de terra na região e alagamento das estradas. Foto: Rosane Saibel
De acordo com o levantamento da Embrapa Gado de Leite, a produção gaúcha sofreu estes efeitos de maneira mais pronunciada, fato agravado pela última enchente de abril/maio de 2024 que, até junho de 2024 acumulou perdas acumuladas entre 360 mil e 670 mil litros/ dia nestes dois meses, o que pode somar mais de 40 milhões de litros acumulados entre maio e junho de 2024.
O pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Samuel Oliveira afirma que as enchentes trouxeram impactos pontuais para o setor e parece que esse cenário já foi superado.” Isso não quer dizer que a produção de leite no Rio Grande do Sul esteja em um bom momento, pois enfrenta problemas estruturais que têm levado à saída de muitos produtores da atividade”, disse Oliveira.

Para Rosane, o momento mais difícil foi ver todo o leite coletado durante as chuvas ser descartado. “Foi como jogar fora quatro anos de trabalho duro, sozinha na lida diária”, desabafa.
Rosane comentou que só foi possível se manter na atividade após as enchentes, pois a Cooperativa Santa Clara pagou um valor mínimo de litros de leite entregue e isso ajudou a cobrir com parte dos custos. "O prejuízo que tivemos foi recuperado, tive que seguir o trabalho e incorporar os prejuízos aos meus custos de produção nos meses seguintes", pontuou a pecuarista.
Darlan Palharini, secretário executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat), destaca que as indústrias conseguiram antecipar um valor aos produtores que perderam a produção durante as fortes chuvas. “As indústrias se mobilizaram e anteciparam pagamentos para tentar minimizar os impactos, mas os recursos não foram suficientes para cobrir todos os prejuízos”, explica.
Palharini reporta ainda que, em muitos casos, as perdas foram tão expressivas que ultraaram a produção dos dias em que não foi possível realizar a coleta de leite. “Tivemos produtores que simplesmente não conseguiram retornar à atividade. A perda não foi apenas do leite, mas da estrutura, dos animais e, a falta de o a financiamentos acabou agravando a situação de muitos”, comentou.
Apesar de alguns casos de sucessão familiar bem sucedida, a pecuária gaúcha tem enfrentado um processo silencioso de retração, marcado pela saída gradual de produtores da atividade. A observação é de Rosane, que acompanha o setor de perto. Segundo ela, muitos pecuaristas já vinham se desfazendo do rebanho e dos maquinários, movimento que se intensificou com as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em 2024.
Estudo realizado pela Emater-RS, mostrou um decréscimo no número de produtores no estado, ando de 84,1 mil em 2015 para 33,0 mil produtores em 2023. Portanto, o recuo de produtores de leite no estado antecede a tragédia vivenciada especialmente em maio de 2024, ainda que os 12 meses finalizados em junho de 2024 tenham registrado o menor valor dos últimos 13 anos, com média diária de apenas 8,32 milhões de litros.
“Além dos altos custos de produção, pesa também o fator etário. Muitos produtores estão envelhecendo e não têm quem os substitua. Os sucessores, em grande parte, já buscaram oportunidades fora do campo”, relata Rosane.
Em agosto do ano anterior, Rosane recebeu um reconhecimento, durante a terceira edição do Prêmio Referência Leiteira ocorreu durante a 47ª Expointer, pelo seu protagonismo feminino à frente da Granja Santo Antônio e como fornecedora de leite da Cooperativa Santa Clara. “Eu fiquei muito emocionada, pois não imaginava que meu trabalho seria reconhecido por uma entidade tão importante do estado”, comentou.
Cerimônia de 3º Prêmio Referência Leiteira que ocorreu durante a 47ª Expointer em 2024. Foto: Rosane Saibel
Atualmente, com um plantel de 42 animais — sendo 23 em lactação e 19 terneiras e novilhas —, Rosane Saibel segue firme na rotina que escolheu ainda na infância. Hoje, está casada com um empreiteiro, que não atua na propriedade. Seu filho primogênito decidiu trabalhar como eletricista e sua filha caçula tem o desejo de se formar em veterinária.
Rosane representa, diariamente, a resistência de quem se recusa a abandonar a atividade, mesmo diante das incertezas do mercado, da falta de políticas públicas e do desestímulo no trabalho no campo.
Curada de batalhas pessoais, Rosane segue firme, alimentada por uma paixão antiga: produzir leite. Um desejo que nasceu na infância e que a acompanha até hoje — madrugada após madrugada, entre o barulho dos baldes, o cheiro do curral e a esperança de dias melhores.
Sua história não é apenas sobre vacas e litros de leite, mas sobre persistência, dignidade e amor pelo que se faz. Em cada ordenha, ela prova que o leite brasileiro continua vindo da força de pessoas como ela — que, mesmo sozinhas na atividade, seguem movendo o campo com coragem e determinação.
Confira as fotos de Rosane e sua familia na Granja Santo Antônio, no municipio de Carlos Barbosa. Foto: Rosane Saibel
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Linda história. Parabéns ao Noticias Agricolas. Se ela pertencesse à classe dos devedores profissionais, dos pagadores de juros, politicos, banqueiros e burocratas estariam correndo atrás prá socorrer. Como são pequenos, tomem importação, assim fica mais fácil eliminar do mercado para deixar só os grandes.