BC eleva Selic ao maior nível em quase 20 anos e deixa decisão de junho em aberto 6e2i35
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Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central decidiu nesta quarta-feira elevar a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, a 14,75% ao ano, em decisão unânime de sua diretoria, e deixou em aberto o que fará na reunião de junho, apontando uma dependência de dados até o próximo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) e indicando a necessidade de uma dose alta de juros por período prolongado.
"Para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação", informou o Copom em comunicado.
“O Comitê se manterá vigilante e a calibragem do aperto monetário apropriado seguirá guiada pelo objetivo de trazer a inflação à meta no horizonte relevante.”
Para a diretoria do BC, o cenário segue marcado por expectativas de mercado desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade e pressões no mercado de trabalho, o que "prescreve uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período prolongado para assegurar a convergência da inflação à meta".
Para Cláudia Moreno, economista do C6 Bank, ao mencionar a necessidade de uma política monetária contracionista por período "prolongado", o BC deixou de indicar que precisará de juros mais altos à frente, ando a sinalizar uma manutenção do patamar elevado "por bastante tempo."
"Isso foi relevante e, ao nosso ver, sinaliza que ele está pensando em parar (de subir a Selic)", afirmou, ponderando que vê uma abertura menor do BC para uma alta de 0,25 ponto em junho.
Na mesma linha, Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter, destacou que a menção da importância de manter flexibilidade "indica que o Copom pode já considerar que esse seja o último aumento do ciclo".
BALANÇO DE RISCOS
No comunicado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC alterou seu balanço de riscos para a inflação à frente, que antes indicava uma assimetria com maior força dos riscos de alta. Agora, a autarquia retirou a referência à assimetria.
“Os riscos para a inflação, tanto de alta quanto de baixa, estão mais elevados do que o usual”, afirmou.
O Copom manteve riscos de alta apontados em março: desancoragem das expectativas por período prolongado, resiliência da inflação de serviços e políticas econômicas que impactem a inflação por canais como o câmbio.
Já nos riscos de baixa, o BC incluiu o efeito de uma redução nos preços das commodities e citou uma desaceleração global mais pronunciada decorrente do choque de comércio e da incerteza. Foi mantida, ainda, menção ao risco de uma desaceleração econômica no Brasil mais forte que a esperada.
Com a decisão desta quarta, os juros básicos vão ao maior nível em quase 20 anos, após seis altas consecutivas da taxa. A Selic esteve em 14,75% pela última vez em agosto de 2006, em meio a um ciclo de queda da taxa durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em meio ao debate sobre as tarifas de importação do governo Donald Trump nos Estados Unidos e dúvidas sobre os próximos os da guerra comercial e seus impactos, o BC afirmou no comunicado que o ambiente externo mostra-se adverso e particularmente incerto.
A autoridade monetária disse que a política comercial dos EUA alimenta incertezas, apontando que há fortes reflexos nas condições financeiras globais, o que demanda cautela de países emergentes. A autarquia destacou ainda que a economia doméstica ainda tem apresentado dinamismo, mas "observa-se uma incipiente moderação do crescimento".
“A conjuntura externa, em particular os desenvolvimentos da política comercial norte-americana, e a conjuntura doméstica, em particular a política fiscal, têm impactado os preços de ativos e as expectativas dos agentes”, disse, ao apontar que segue acompanhando a política fiscal do Brasil e seus impactos.
Desde a reunião de março do Copom, o presidente da autarquia, Gabriel Galípolo, tem pregado cautela diante das incertezas do cenário, argumentando que o BC está “tateando” o ajuste feito na política monetária para avaliar se os juros estão em nível restritivo o suficiente e se estão produzindo os efeitos necessários para levar a inflação à meta.
BC REDUZ PROJEÇÃO DE INFLAÇÃO
Desde março, as expectativas de mercado para os preços seguiram desancoradas, fator tratado com preocupação pela autarquia, com a previsão para o IPCA de 2025 no boletim Focus baixando levemente de 5,66% antes do encontro de março para 5,53% nesta semana. Para 2026, foco do horizonte relevante de atuação do BC, as expectativas subiram de 4,48% para 4,51%.
O BC, por sua vez, melhorou nesta quarta suas projeções de inflação em relação a março, com estimativas ando de 5,1% para 4,8% em 2025, considerando o cenário de referência, que segue projeções de mercado para os juros. Para o fechamento de 2026, atual horizonte relevante, a projeção ou de 3,9% para 3,6%.
Para fazer as projeções do cenário de referência divulgadas nesta quarta, o Copom considerou uma taxa de câmbio que parte de 5,70 reais, abaixo dos 5,80 reais usados na reunião de março.
O centro da meta contínua para a inflação neste e nos próximos anos é de 3%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
A decisão desta quarta veio em linha com a expectativa de mercado captada em pesquisa da Reuters, na qual 32 de 35 economistas entrevistados projetavam que o BC elevaria a Selic em 0,50 ponto.
Mais cedo nesta quarta-feira, o banco central dos Estados Unidos manteve a taxa de juros inalterada, mas disse que os riscos de aumento da inflação e do desemprego cresceram, obscurecendo ainda mais as perspectivas econômicas.
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